Pré-candidato a deputado federal pelo PL e filho do ministro da Saúde Marcelo Queiroga, o estudante de medicina Antônio Cristovão Neto usou agenda em Sumé, no interior da Paraíba, para se apresentar como representante do governo federal. Em 19 de abril, Queiroguinha, como é conhecido, foi entrevistado por veículos locais e falou como integrante do governo de Jair Bolsonaro (PL), mesmo sem ocupar um cargo público.
“Nós, enquanto representantes do governo federal, precisamos ter um olhar voltado com muita sensibilidade para essa região, que tem um grande potencial na área social, na área educacional e nos recursos hídricos”, disse Antônio Cristovão Neto, em entrevista à Radiocidade Sumé.
No evento, o Ministério da Saúde anunciou repasse de R$ 12 milhões da Saúde a municípios da região do Cariri, sul do estado.
“Na área da Saúde, o prefeito [de Sumé] sabe que pode contar com o apoio do ministro Marcelo Queiroga na parte de custeio para as unidades de saúde e também na parte de investimentos, com equipamentos de saúde para a população”, acrescentou Queiroguinha.
O estudante de medicina também disse que abriria as portas do gabinete do pai em Brasília.
“Como gestor dedicado, o prefeito de Sumé já me cobrou prontamente aqui que na próxima semana gostaria de ser recebido pelo ministro Marcelo Queiroga, em Brasília, para apresentar novos projetos e ações para Sumé e para os municípios do Cariri. Prontamente, disse: ‘Meu caro Eden [Duarte, prefeito de Sumé], vai ser um prazer receber você lá’.”
“O nosso governo, eu gostaria de reafirmar aqui, o governo federal, está ao lado dos municípios e do Nordeste”, disse Antônio Cristovão Neto, filho do ministro Marcelo Queiroga.
Menos de uma semana depois, ao menos três prefeitos que estavam no evento em Sumé foram recebidos por Queiroga em Brasília em reuniões que não constam na agenda oficial do ministro, segundo relataram participantes do encontro ao jornal O Globo.
Na reunião, Queiroga se comprometeu a enviar dinheiro para os gestores da região, dizem os relatos. Procurado pelo jornal O Globo, Queiroguinha negou que tenha atuado em nome do governo federal em Sumé.
“Eu nunca falei em nome do governo federal. Minha atuação como pré-candidato a deputado federal tem respeitado integralmente a lei eleitoral.”
Entretanto, o prefeito de Caraúbas, Silvano Dudu (União Brasil), que esteve no evento em Sumé, diz o contrário.
“Ele [Queiroguinha] estava representando o ministro da Saúde, que não foi ao evento. O prefeito Eden Duarte convocou, e a gente recebeu esses recursos para o Cariri com muita gratidão”, afirmou Dudu, para O Globo.
A cidade de Caraúbas recebeu R$ 525 mil para investir na área da saúde. No mês passado, pelo menos oito cidades do Cariri receberam recursos do FNS (Fundo Nacional da Saúde) que totalizam R$ 10,2 milhões, segundo o Globo.
Desde o início do ano, Queiroguinha participou de pelo menos cinco cerimônias ao lado do pai para anunciar a liberação de dinheiro público para cidades da Paraíba, aponta levantamento de O Globo.
O UOL procurou o Ministério da Saúde e atualizará a matéria se houver manifestação.
Filho de Queiroga pode ser investigado
Na semana passada, o deputado federal Bira do Pindaré, líder do PSB, protocolou na PGR (Procuradoria-Geral da República) um pedido de abertura de processo para investigar o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o filho Antônio Cristovão Neto por suspeita de improbidade administrativa e infração à legislação eleitoral.
A representação junto ao órgão ocorre após o jornal O Globo ter afirmado que Queiroguinha usaria o livre acesso que tem ao gabinete do ministro para intermediar demandas de municípios da Paraíba, estado pelo qual deve tentar se eleger deputado federal.
“A reportagem informa que o filho estaria acompanhando o pai nas agendas ministeriais, a fim de promover a sua imagem, chegando a substituir o pai, como representante do Ministério da Saúde, em discurso direcionado à plateia no Estado da Paraíba”, diz a ação endereçada ao procurador-geral da República, Augusto Aras, que pode oficiar a PF (Polícia Federal) para que apure as circunstâncias do caso antes de apresentar denúncia ou arquivar o caso por considerar o pedido improcedente.
O congressista cita ainda que o portal Jovem Pan noticiou que, numa reunião em que seria anunciado um repasse de R$ 5 milhões de reais, por meio de convênio com a Fundação Nacional da Saúde, estiveram presentes 10 prefeitos da Paraíba e que, na ocasião, na última hora, foram avisados que o Ministro Queiroga não estaria presente, mas que seu filho o representaria.
“A eventual intermediação de recursos públicos, tendo como contrapartida a vantagem indevida de apoio político-eleitoral, é conduta odiosa e recriminada tanto na legislação comum como na especial. Não obstante, num país como o Brasil não se pode duvidar que eventual aporte irregular de verbas tenham uma parte devolvida em caixa dois”, diz o deputado.
As informações são do UOL