A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar um possível esquema de desvio de recursos públicos na Prefeitura de Princesa Isabel, no Sertão da Paraíba, envolvendo o ex-prefeito Ricardo Pereira do Nascimento e outros servidores e empresários ligados ao município. A apuração foi instaurada com base em um Relatório de Inteligência Financeira (RIF) enviado pelo COAF, que apontou movimentações suspeitas entre 2017 e 2024.
Segundo o relatório preliminar da PF, foram identificadas operações financeiras consideradas atípicas, como saques em espécie realizados por terceiros, cheques emitidos para pessoas sem vínculo com a administração pública, endossos em branco que permitiam a retirada de dinheiro sem identificação do beneficiário final e pagamentos que não aparecem nos sistemas oficiais de transparência.
A investigação destaca que cheques da prefeitura eram repassados para intermediários, que realizavam saques diretamente na agência bancária da cidade. O mototaxista Juan Dennys Chaves, ouvido no inquérito, confirmou que recebia pilhas de cheques do secretário municipal Cleidiano Moura Cazuza, conhecido como “Neném”, para efetuar as retiradas e devolver o dinheiro em mãos ao servidor.
O COAF registrou que Cleidiano movimentou mais de R$ 5,6 milhões entre 2019 e 2023, valor incompatível com seu salário de cerca de R$ 4,7 mil mensais. A PF aponta “fortes indícios de peculato” e de operação estruturada para ocultar o destino dos recursos públicos.
Outro nome citado é o de Jonh Charles Pereira Medeiros, que não possui vínculo empregatício, mas movimentou aproximadamente R$ 5,4 milhões no período investigado. Parte desses valores circulou entre ele e o então prefeito Ricardo Pereira, além de pessoas próximas ao gestor.
Também chama atenção o caso de Julya Silva Bezerra de Lima, de 22 anos, que, segundo o inquérito, movimentou mais de R$ 14 milhões em contas pessoais e de sua empresa, apesar da baixa capacidade operacional compatível com os valores.
O relatório aponta um total de mais de 900 cheques sacados, somando cerca de R$ 1 milhão apenas entre documentos identificados, além de vários outros ainda sob análise.
Depoimentos também relatam possível fraude em um evento social realizado pela prefeitura, onde mais de 200 pessoas teriam assinado o verso de cheques com promessa de recebimento de valores que nunca foram pagos, apesar de constarem como quitados nos sistemas oficiais.
A PF afirma que as evidências sugerem a atuação de uma “organização criminosa montada para esvaziar os cofres públicos” da cidade ao longo dos últimos anos.
O inquérito foi encaminhado ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região devido ao foro por prerrogativa de função do atual prefeito.


